Em novembro de 1807 o Rei Imperador Napoleão Bonaparte conquistava Portugal e andava atrás do Rei D. Pedro IV e da sua corte como uma formiga atrás de açúcar, para poder chamar a isto tudo França e não Portugal, imaginem, hoje em dia, não havia pastel-de-nata, mas havia um doce que ia ser um resultado meio tunning entre um pastel de natal e uma baguete ou um croissant. Acontece que há mais de 300 anos desde D. João II que já existia o inicio dos serviços secretos portugueses e, portanto, o Rei D. Pedro IV não foi apanhado de surpresa e, piram-se, ele e supostamente mais 4000 pessoas, embarcando com destino direto ao Brasil, deixando Napoleão e todas as suas tropas a ver navios (uma das supostas origens da expressão) na zona de Algés no que hoje é a praia de Algés.
Esta história que vou contar é basicamente em Algés uns duzentos anos depois.
Mais uma sexta-feira com uma festa ou aniversário não interessa, festa simples onde não é preciso organizar nem tratar de nada, a festa ideal. Sou obrigado a ir com uma borbulha na testa, porque não ir não é uma hipótese e não ir por causa de uma borbulha é absurdo, mas o que me causa intriga é a origem desta borbulha, mas enquanto bebo a primeira cerveja em casa decido que provavelmente é por causa do saco de Malteseres que devorei ontem, originalmente eram chamados de Energy Balls, o nome deriva de duas palavras 'malte' e 'teasers', independentemente da grafia, os Malteseres não têm ligação com o povo maltês ou com a cidade de Malta, ou então a origem da borbulha foram nozes, podem ter sido nozes, normalmente são as nozes.
Passo a festa tranquilamente a beber o máximo que consigo porque na realidade nunca sei quando a festa acaba ou quando vou ser expulso, a ignorar a comida porque não faz sentido nesta fase comer, a fingir que danço enquanto ofendo o Dj porque ele falhou os RPM’s na mudança da música e no fundo a vê-lo fazer um trabalho cada vez pior cedendo à minha pressão e que no fundo me dá um certo prazer, tudo isto enquanto mantenho um dedo em cima da minha borbulha da testa porque é melhor aparecer em todas as fotografias com um dedo na testa do que com uma borbulha e porque aparentemente é um bom desbloqueador de conversa virem-me perguntar porque estou com um dedo na testa, em uma palavra divertido.
Como tudo o que é bom chega ao fim, antes de ser expulso é melhor ir embora, efectivamente já toda a gente da festa sabia porque é que eu andava com um dedo na testa, já não estava feliz, se o foco já não apontava directamente para mim, estava a sentir-me pequeno e achei que era a altura ideal de ir embora. Aproveitei o álcool no sangue como elixir amnésico para esquecer o carro e também como combustível para uma caminhada e fomos, eu e uns amigos para uma Discoteca na zona.
Pelo caminho deixei um deles entreter-se no meu telemóvel para tentar trazer alguma companhia que fosse ter connosco, eu honestamente já não tinha em mim muito mais do que grunhidos algo que por mensagem resulta em nada. Na realidade ele também não conseguiu que alguém viesse mas conseguiu escalar um engate que tinha no telemóvel para algo que eventualmente se tornou bastante sério com uma mensagem nos tons de “vamos ser felizes para sempre”, podia ter sido só “vamos ser felizes” podia, mas não tinha sido a mesma coisa.
Chegados à Discoteca já num estado demasiado alterado para conseguir fazer desta noite algo memorável, o que se passou foi bastante insignificante como, o Dj da festa, simplesmente entrámos, bebemos, vodka-redbull, porque o coração estava a precisar de uma taquicardia para perceber que não era hora de adormecer, vimos umas dançarinas dentro de umas jaulas individuais e quando percebemos que o espetáculo tinha intervalo decidimos ser nós a dançar dentro das jaulas, isto foi a suficiente gota de água a quebrar a tensão superficial na borda copo para sermos convidados a sair
Hora de dar a noite como concluída já nada de bom podia vir desta noite.
A caminho do carro ainda conseguimos, ignorar as roulottes de hambúrgueres porque ainda não fazia sentido comer, subir para cima um camião porque daria uma boa fotografia, tentar soprar no balão enquanto passamos a pé por uma operação stop fazendo questão de salientar aos policias o quão conscientes estamos a ser em vir a pé, comer hambúrgueres numa roulotte porque já não fazia sentido continuar a não comer.
Chegámos ao carro finalmente o que para nós pareceu três dias depois.
Somos parados na mesma operação stop pela qual tínhamos passado a pé hà três dias antes, porque não conseguimos raciocinar ao ponto de nos lembrarmos que ela lá estava, até o policia que nos mandou encostar percebeu quem eramos e não conseguiu esconder o olhar desiludido, como um pai triste por ver o filho chegar a casa com mais uma negativa, não admiti a derrota e olhei para ele como se fosse a primeira vez que o via e que era parado numa operação stop o que confundiu pelo menos alguns dos seus neurónios policias e ainda perguntei para grande surpresa do resto dos neurónios se ele quer que estacione em paralelo ou em espinha? Pergunta que não dei tempo para ele responder e estacionei da outra maneira possível, que eu chamo, de qualquer maneira. Saímos os três do carro e num raio de naturalidade e simplicidade, como uma andorinha bebé a sair do ninho pela primeira vez, meio a medo, mas com coragem, e vamos embora, mais uma caminhada até casa.
Acordei no dia a seguir, na cama vestido com a chave do carro no bolso e com a borbulha da minha testa infectada e muito pior do que no dia anterior, agora a culpa já não eram nozes nem Malteseres mas sim os meus dedos imundos do dia anterior.