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Já houve tempos, pensou Apolo ao investir ritmadamente, em que dar uma queca ilícita numa Afrodite do século XXI na casa de banho era uma coisa excitante. Observou-a enquanto ela encostava as costas á parede preta de tinta escamada, comum gracioso pé apoiado na sanita manchada pela idade. O verniz das suas unhas era a única tinta imaculadamente aplicada em toda a casa de banho. Ela é requintadíssima. Não se pode negar. Era simplesmente a mais bonita das mulheres, a sua beleza enfeitiçava qualquer um. Os olhos (nova investida), o cabelo (nova investida), a boca (nova investida), a pele (nova investida), os seios (nova investida), as pernas (nova investida); não havia um único defeito no seu corpo. Embora isso não fosse um feito fabuloso vindo desta Afrodite. Afinal era a deusa da beleza. Mas mesmo assim pensava Apolo, apesar de ser tão sublime, tinha aquele ar de... bem... tédio? A verdade é que Apolo estava tão entediado com Afrodite que se sentia capaz de gritar. No entanto, o seu orgulho não aguentava o facto de ela poder sentir-se da mesma maneira.
- Pronto vou virar-me - anunciou Afrodite
- Está bem - respondeu Apolo
Pelo menos não ia ter de continuar a olhar para a expressão indiferente e passiva dela.
- Pronto vou virar-me - anunciou Afrodite
- Está bem - respondeu Apolo
Pelo menos não ia ter de continuar a olhar para a expressão indiferente e passiva dela.
Afrodite separou-se dele e virou-se de cara para a parede. Arqueou as costas, exibindo as esferas perfeitas das sua nádegas e apoiou-se na parede com as mãos esguias e elegantes. Apolo voltou a entrar nela e continuou com as investidas. Olhando-lhe a nuca, com o cabelo de um negro brilhante descendo em caracóis pela encosta de alabastro que era os seus ombros, Apolo quase conseguia imaginar que estava a ter sexo com a Catherine Zeta Jones. Questionou-se se conseguiria convencer esta Afrodite a falar para ele em galês. Só para introduzir um elemento novo. Daria tudo por uma novidade.
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Apolo queria sair. Sair de Afrodite, daquela casa de banho, daquela casa, da sua vida.
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Apolo queria sair. Sair de Afrodite, daquela casa de banho, daquela casa, da sua vida.
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Estava Farto.
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2 comentários:
Eu acho que está muito provocador.. E eu gosto bastante por isso. Cenário sujo com deuses a terem relações, é no mínimo inovador.
:)
Haverá algum campo, alguma área da prosa em que o poeta mundano não dê cartas? Será possível alguma vez não sermos absolutamente implodidos pela constante inovação desta mente brilhante que promete ser o novo estágio da evolução darwinista?
Ainda longe da exaustão dos temas mundanos, o poeta sem rumo ruma agora para o glamoroso e pomposo mundo da pornografia.
Conta-nos a história de dois deuses que, fartos do conforto do olimpo, decidem, como se diz na gíria, "fazer bébés" numa casa de banho. E, como de costume, este verdadeiro Ghandi que em vez de lutar pela Índa luta pelas palavras deixa-nos aqui um pequeno texto rico em diversas camadas de histórias deste vivido poeta. Vemos aqui, por exemplo, reflectida a fatiga do nosso profeta eduardo depois de ser assediado por tantas modelos por esse mundo fora. "Pára de me mandar mensagens, gisele bundchen. estás a ser muito insistente!" ouvi eu da boca deste autêntico tony ramos sem pelos acima da cintura.
Admirável também o poeta a desmistificar a suposição de que os deuses da antiguidade clássica são de alguma forma eruditos ou poéticos na maneira como se expressam... Balelas! Perto do nosso poeta, o que a deusa Afrodite diz é que, entediada pela posição coital que estava a praticar, se vai virar de costas. Ao que o seu interlocutor, esse tal deus Apolo, com todo o seu carisma, afirma "está bem", como quem diz "por mim tanto faz, mas vamos la a andar com isto que está quase a começar os Ídolos."
Enfim, só nos resta esperar que o poeta rume pelos caminhos do cinema, e adicione o título de "realizador" aos seus inúmeros ofícios, a que destrone o esse grande Scorsese do cinema portugues, o infame Sá Leão. Aguardamos atentamente.
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