quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Esta noite...

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Esta noite, assombrado por um insónia de um tamanho respeitável, contei febrilmente carneiros para adormecer e cheguei à conclusão que este sistema é um método primitivo, mas que de facto entretém, ajuda a passar o tempo de forma assaz repousante. Simplesmente, como sou uma pessoa meticulosa, um homem do rigor, da contabilização, do papelinho comprovativo, incapaz de aceitar trabalho defeituoso e quando me perdia nos cálculos voltava ao principio - e ficava extremamente desmoralizado. E este facto deve ter contribuído para que esta manhã, bailavam-me na memoria as imagens atrozes de um pesadelo verdadeiramente estranho.
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Encontrava-me numa praia onde ninguém me conhecia. As pessoas conversavam indolentemente umas com as outras sob o dardejar dos raios de um sol ardente. Aqui e além bebiam-se laranjadas, gasosas, cervejas e coca-colas. Todos se mostravam indiferentes à minha passagem, à visão de um corpo peludo da cintura para baixo e viril q.b., apenas coberto nas partes pudendas por uma sunga encarnado como um lápis de cera crayola que contrastava com a vastíssima variedade de modelos de fatos-de-banho mas todos eles em tons de cinza. A água do mar estava agradável. Nem morna como uma sopa, nem fria como uma imperial. A justa conta. Nadei durante cerca de meia hora, num mar sossegado de água estagnada, por entre pessoas de ambos os sexos e das mais variadas idades, inclusivamente um cego, sem que ninguém reparasse em mim.
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Regressei à minha barraca. Mesmo ao lado, um grupo de banhistas de raças variadas discutia teologia. Comentava-se um artigo, aparentemente, publicado recentemente num jornal por um intelectual de esquerda. Intriguei-me na conversa, mas não consegui perceber a questão por ainda ter alguma água nos ouvidos, e querendo mesmo assim despertar este filme a preto e branco a contrastar com a minha sunga encarnada, enquanto enxugava a água das ouvidos, comentei:
- Deus não existe!
Apenas dois interlocutores, de slip cinzento às riscas num padrão idêntico, olharam para mim e um deles respondeu:
- É possível que não exista. Mas não é disso que estamos a falar.
A minha intervenção polémica foi esquecida e a conversa prosseguiu sobre o tal artiguelho do esquerdista.
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Até que se fez tempo para o almoço e, a pouco e pouco, todos abandonaram a praia.
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Fiquei só, olhando o mar. Na minha direcção, uma folha solta de revista caminha pela areia. Referências a um actor famoso, aclamado pelas multidões: um rapazola guedelhudo, expressão de provocador, certamente um valdevino de conduta sórdida, ídolo do mulherio e talvez um maricas, um impotente, como tantos outros. Ignorei e deixei que a folha seguisse o seu caminho.
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Deitei-me para trás e adormeci. Acordei adruptamente sem a minha sem sunga escarlate e fui a correr para a minha cabana. Acordei pelo caminho..
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3 comentários:

Anónimo disse...

Obrigadaaaaaaa!
Até já anotei na lista e depois na segunda vou mencionar no post!
Gostei do teu blog, nao conhecia!
Beijinhos

Unknown disse...

Davas um bom contador de historias! Sonhei que o meu pe direito nao conseguia fazer circular o sangue... E ainda agora sinto as pulsaçoes do seu esforço para fazer chegar o sanegue ao coraçao! Sabes interpretar isso?

Teixas disse...

eu sei tomasinho! ás vezes a malta ta a dormir e fica com um pé dormente!